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terça-feira, 28 de março de 2017

Sobre a dor e a delícia de ser o que é...

Aos 45 anos de idade posso dizer que já experimentei todos os carrinhos dessa montanha russa chamada vida, o que me dá energia pra ter algumas convicções. Uma delas, talvez a mais forte delas, é a de que não pretendo mais me casar, ou, ao menos, não pretendo me casar com o macho brasileiro regular.

O porque disso é simples: esse tipo de homem, bem genérico em terras cabrálias, é extremamente machista. Ele acredita que a mulher é sua propriedade e sua serva. Mesmo que seja ela a mantenedora, ele acredita piamente que é obrigação da mulher fazer todas as tarefas domésticas, incluindo lavar as roupas dele e cozinhar pra ele, mesmo quando ela não tá a fim. Além do mais, por ser propriedade dele, a mulher precisa de autorização para sair ou receber pessoas em casa. E, normalmente, ele vai checar as mensagens no celular dela, porque propriedade não precisa de privacidade. E é ele que decide pra onde vão e quando não vão a lugar nenhum. Ele tem amigos, muitos amigos, com os quais se encontra pra bater bola ou tomar uma. Ela pode ser amiga das esposas dos amigos dele. E nada de sair sozinha, que mulher direita tem que ficar em casa. O amigo que leva ele pra gandaia é parça... A amiga que chama ela pro barzinho é puta. O macho regular brasileiro é controlador. E eu... Ah, eu não suporto controle.

Nem é por maldade. Também não é rebeldia, nem birra. O caso é que, a antiga estrutura de família faliu há tempos. O homem mantenedor e a mulher submissa e do lar, já não passam de um artigo da década de 50, na revista Claudia.

Hoje, a mulher trabalha como o homem, estuda como o homem, assume responsabilidades como o homem e divide as contas da casa com o homem. Então, se os papeis mudaram, os relacionamentos precisam mudar também.

Um relacionamento a dois, precisa ser realmente a dois. Parceria. Os papeis de homem e mulher estão totalmente misturados. O poder que o homem tinha por ser o dono do dinheiro que mantém a casa, acabou-se. O casal, agora, segura a onda junto. No entanto, embora juntos, as demandas do dia-a-dia, no mais das vezes, abrem a necessidade de se preservar uma certa individualidade. Nem sempre os amigos vão coincidir, ou as preferências sociais. Não é justo que, depois de um dia exaustivo de trabalho, eu seja obrigada a ir àquela festinha chata na casa daquele amigo dele com o qual eu não tenho a mínima afinidade. Qual o problema dele ir sozinho? Eu aproveito pra ter um tempinho só pra mim... O mesmo vale pro parceiro, que não pode ser arrastado pros programas que não curte, só porque eu gosto.

Encontrar um homem, de minha geração, que concorde com tudo o que descrevi acima é tão fácil quanto achar um trevo de quatro folhas no canteiro.

Eu sou individualista, territorialista (muito difícil pra mim abrir mão do meu espaço ou compartilhá-lo), preciso de silêncio e solidão vez por outra e não suporto controle. Sou uma boa amiga, uma boa companheira, desde que se entenda que existem os limites acima. Não acho ruim ser como sou. Sou feliz. Vivo em paz. Essa é a delícia de ser como eu sou...

Mas SER é, dos verbos, o mais complexo. Há delícias... mas também há dores em ser o que sou...

Como toda e qualquer mulher, eu tenho meus momentos de fragilidade. Me sinto carente, às vezes... dá uma vontade de colo. Já houve ocasiões em que a carga veio tão pesada que eu cheguei a me perguntar se valia mesmo a pena ser assim tão independente, tão senhora de mim. Mais aí, dei conta do recado (como sempre dou) e a dúvida passou... Sim, vale a pena...

Estar sozinha hoje é uma condição que só revogo se encontrar um parceiro, seguro de si e feminista como eu. E não aceito menos!!!